Eu sempre achei a
regra das 10.000 horas bastante interessante. Claro que, como toda generalização, ela não é completa e deixa de fora muitas nuances. Entretanto, ela serve de auxílio a quem almeja aprimorar alguma habilidade. Isso por que ela consite em uma métrica bastante simples e ficando fácil traçar um caminho para alcançá-la.
A questão é que esta simplicidade também traz uma grande confusão. Afinal, não basta apenas praticar de forma cega durante todo este tempo para poder ser considerado um especialista em algo. Tome por base dois desenvolvedores que alcançam tal marca. Porém, um deles seguiu todo este tempo codificando aquilo que lhe foi determinado dentro dos limites do seu conhecimento. Já o outro, sempre criticou seu trabalho, buscou formas novas de fazê-lo e melhorá-lo. Seriam ambos tão especialistas após este tempo?
Apesar de achar a marca de dez mil horas uma boa meta, acredito que ela falha em traçar os passos intermediários para se chegar até lá. Acredito também que técnicas como o
Shuhari ajudam melhor a nos guiar aquilo na busca de se aprender uma habilidade. Mas aqui eu queria me apropriar de outra analogia para ajudar nesse caminho. Neste caso é uma prática utilizada na aviação (de onde já roubamos a programação em par) para complementar este caminho. Me refiro aos
brevês de piloto e as metas intermediárias para alcançá-las. Segue um pouco dos níveis dos "pilotos" e o que imagino disso aplicado ao universo de TI.
Desenvolvedor Esportistas
Este é aquele desenvolve apenas por hobby. De acordo com seu brevê ele necessita de 20h práticas para chegar aqui. Tempo este que é raramente alcançado em cursos básicos de desenvolvimento. Isso devido a suas restrições de tempo, estes cusos incentivam pouco a prática. Por isso esse desenvolvedor tem que buscar um pouco mais de experiência por conta própria.
Veja também que esse nível, no mundo da aeronautica, só permite ao piloto ter um passageiro (e sem relação comercial) em aviões de pequeno porte. Por isso, aqui o desenvolvedor estaria restrito apenas a brincadeiras e dojos.
Desenvolvedor Pessoal
Aqui já dobramos o número de horas de desenvolvimento (40 horas), porém as regras dizem que devemos explorar ambientes diversos. Para os pilotos isso quer dizer experimentar diferentes condições como noite, dia, solo e em equipe. Para desenvolvedores isso quer dizer experimentar diversas linguagens e conceitos, ou mesmo projetos distintos. Pela regra ainda não é possível atuar profissionalmente, mas já é capaz de desenvolver projetos pessoais mesmo que em equipe.
Desenvolvedor Comercial
O mínimo exigido aqui são 250 horas de prática, mas após isto você estará apto a desenvolver comercialmente. Apesar deste nível permiir que você já atue profissionalmente ele te limita a a lidar com projetos de baixa complexidade. Acredita-se que depois de uma bagagem de tempo deste nível, e de forma rica, o desenvolvedor possa encarar a responsabilidade do mundo real.
Desenvolvedor Profissional
Pela regra seriam necessárias 1.500 horas para se chegar neste nível. Para se ter uma idéia, um curso de computação (como da UnB) exige 250 créditos (aproximadamente 6.700 horas) de seus alunos, destes apenas 26 consistem na prática de desenvolvimento (aproximadamente 700 horas). O que significa que um bom curso superior te levaria a alcançar apenas metade deste caminho. Mas expera-se que com uma e experiência tão vasta, o desenvolvedor já tenha a desenvoltura esperada de um profissional da área.
Mas isso faz sentido?
É claro que não. Estas "regras", assim como a das 10.000 horas não garantem nada com relação a sua evolução profissional. Mesmo assim, elas oferecem uma base de comparação para aqueles que querem um guia de como trilhar o caminho para se tornar um grande profissional. No fim das contas o que vai importar será a riqueza de experiências deste caminho (e não o número de horas). Restando então a cada um que busque expandir seus horizontes conforme avança nesta estrada.